Dito Pereira, um poeta
Qual seria o nome de nosso concurso de poesias, era a pergunta que Ariovaldo e eu fazíamos, porque todo o projeto já estava concluído.
Homenagearíamos um poeta nacional? Um poeta da cidade?
Então surgiu, lá de nossas precisas lembranças, o nome que preencheria as expectativas: Concurso de poesias Dito Pereira.
Contudo, esse não era um nome que representasse todas as nossas ambições, um concurso que abrangeria facilmente todo o território nacional, quiçá países vizinhos.
Mas, na formalização final, Ariovaldo me procurou com a triste notícia do falecimento do poeta mineiro, consagrado nacionalmente: Fritz Teixeira de Salles.
Optamos pela homenagem a Fritz.
Mesmo agora, na vigésima edição do Concurso Fritz Teixeira de Salles, que ultrapassou nossas melhores expectativas, com participação de poetas de mais de quatorze países, ainda o nome de Dito Pereira nos assombra porque nunca havíamos homenageado aquele que teria sido nossa primeira opção.
Hoje, portanto, realizamos nosso desejo de consagrar o poeta que nos viu meninos descalços pelas ruas. E que, de certa forma, nos mostrou alguns de seus mágicos versos. E sempre nos fez crer que “o simples é o perfeito”.
Um dia ouvi Dito Pereira declamar este poema espontâneo para uma elegante senhora que passava e não lhe notava a presença:
“Que beleza… / que maravilha… /parece os astros pisar /mas as estrelas estão rindo /do tombo que vai levar”.
E me lembro de outros versos, quando uma pessoa estava triste porque a amiga iria se mudar para longe, ele disse:
“Não é porque mora longe /que a gente não quer bem /pois quanto mais longe mora /mais saudades a gente tem”.
Então Dito Pereira protagonizava o que J. K. Rowling disse, em seu livro:
“Você ainda não entendeu que a magia não está na varinha, a magia está nas palavras, caro Harry!”
Dito Pereira, um mulato alto e magro, cabelo encaracolado, que tinha as noites e as garrafas como legítimas companheiras, era um poeta enfeitiçado de versos, mas que acabou se desencantando na solidão de uma esquina, numa noite chuvosa e fria.
Portanto, hoje o poeta distante retorna a casa.
José Carlos Grossi