Vinte Tempo de Fritz Teixeira de Salles
Foi instituído em julho de 1981, para homenagear o grande poeta mineiro. E sem enganos entre cervejas e sonhos no bar do Toninho do Peri por mim e pelo Kuaia Grossi. Em 1982 concorreram 1.080 poetas de 10 estados brasileiros e o resultado:
1º lugar: “Libertarde” – Max Figueiredo Portes
2º lugar: “Dezembro” – Fernando Fábio Fiorese Furtado
3º lugar: “Trajetória” – Marçal Aquino
Um espaço para esse tempo em que a dor dançava feito novelo de lã pelos gatos que ficavam nos escuros porões da liberdade.
As palavras foram saindo feito um quarteto de cordas afinado e ao mesmo tempo edificando nas vozes sonantes como um cantor em fim de noite.
É uma das realidades mais fantásticas da nossa vida. Ela está presente em todas as nossas atividades; porque vivemos entrelaçados pelas palavras; elas estabelecem todas as nossas relações e nossos limites, dizem ou tentam dizer quem somos, quem são os outros, onde estamos, o que vamos fazer, o que fizemos. Nossos sonhos são povoados de palavras; os outros se definem por palavras; todas as nossas emoções e sentimentos, assim se revestem. O mundo inteiro é um magnífico e gigantesco bate-papo, dos chefes de Estado negociando a paz e a guerra às primeiras sílabas de uma criança em alguma favela brasileira ou numa vila africana. É pela linguagem, afinal, que somos indivíduos únicos: somos o que somos depois de um processo de conquista da nossa palavra, afirmada no meio de milhares de outras palavras e com elas compostas.
E parece, ou com certeza de que ainda sabemos pouco sobre a linguagem e, em geral, temos uma relação problemática com ela, notadamente na sua forma escrita. Embora não sejamos nada
sem a língua parece que ela permanece meio estranha em nossa vida, como que se ela não nos pertencesse.
Todos nós somos verdadeiros “processadores de significado”, não somente em todos os momentos da vida bem como quando estamos lendo um texto. No cotidiano das ruas: placas, cores, roupas, vozes, desenhos, formas… ou se estamos distraídos, a própria cabeça se encarrega de produzir significados – lembranças, pensamentos, imagens, ideias e fragmentos de ideias… Há, de fato, uma infinita cadeia de vozes que nos relaciona e nos liga intimamente ao mundo exterior, fora da qual não existimos.
Por isso os sonetos os textos-poéticos, as prosas , em fim a poesia maturando o ser e dando sabor a nossa realidade nua e fria.
Vinte edições em vinte tempos.
Se achegaram Plácido Bernardi Neto (Placinho), Cláudio Faraco, Ivan Mariano Silva.
Eraldo Monteiro, Jaime Gottardello e Bernardo Bernardi trouxeram uma roupagem fina e cheia de novas estradas.
Por fim Alessandra Mariano e Carlos Alberto Martins embalam o atual momento de continuidade num tempo em que muitos gatos ainda continuam nos porões.
Ariovaldo Guireli